
Suzy e Malô numa receita de amor eterno (IV)
Continuação do capítulo III abaixo
A festa chegava ao fim. Dona Cleyde e Renato aproximam-se dos namorados, pediram licença e avisaram a Suzy que estava na hora de se retirarem. Em seguida, dirigiram-se para o automóvel estacionado do outro lado da rua, deixando que Malô e Suzi seguissem atrás. Suzy, aproveitando, disse quebrando um pequeno silêncio entre os dois:
- Se tiver tempo, vá me buscar na segunda-feira, às l5 horas, no colégio Afonso Taunay, onde leciono, assim poderemos nos rever e termos tempo para conversar – ok?...
- Irei, sim – disse o estudante.
- Te aguardo no saguão do prédio, próximo à porta do lado esquerdo.
- Melhor seria que eu lhe esperasse na porta do Cine Nobel, gosto, sempre que posso, distanciar-me de padres e freiras.
Sorriu a moça:
- Como queiras...
Então na porta do Nobel – ok?...
- Aguardo, heim?... tchau!...
- Tchau!... durma em paz...
Dona Cleyde obtemperou, com voz cansada:
- Saia lá em casa, Malô, assim vocês se verão de novo. A Suzy é nossa vizinha.
- Irei lá qualquer dia desses...
- Olha lá, baiano, promessa é dívida – bradou Renato Amarante, ligando o motor.
- Fiquem tranqüilos, quando menos vocês esperarem, chegaremos lá.
- Vamos, Renato, estou morrendo de sono – disse Dona Cleyde, abrindo a boca.
- Vamos conosco, Malo – disse Renato Amarante.
- Não posso ir agora, sou tesoureiro do Grêmio e preciso acertar contas com a turma logo mais.
- Bem, então deixe-me ir – disse Renato Amarante, despedindo-se.
O carro saíra rodando mansamente pelo asfalto e Dona Cleyde e Suzy acenaram com as mãos para Malô, que ficara na calçada inundada pela luz crua do poste.
A tarde de segunda feira era bela e luminosa. Um sol escaldante parecia cozinhar a terra, porém Malô, que não havia esquecido a moça um só momento, seguiu em direção ao colégio onde, segundo o trato, deveria se encontrar com Suzy. Chegando ao ponto combinado, nada vira além de uma rua deserta e continuamente varrida por um vento morno,que parecia anunciar a brusca mudança do tempo; o estudante consultou o relógio, que já marcava 15h10 e aguardou por mais alguns minutos à sombra do tamarineiro, quando avistou a pequena, que dobrava a esquina, onde funcionava o colégio; envergava um costume rosa, que realçava muito bem seus cabelos cor de pêssego e lhe dava uma aparência das claras mulheres de Renoir. Esta ao chegar muito sorridente, cumprimentou o acadêmico com um sorriso e disse:
- Gosto das pessoas pontuais, embora esteja atrasada por alguns minutos. Faz tempo que você chegou?...
- Dez minutos – disse o jovem, olhando no relógio.
- Me atrasei na Secretaria.
- Não há de ser nada – tranqüilizou-a beijando –lhe a testa.
O rapaz, em seguida, tomou-a pela mão e disse a sorrir:
- Por você sou capaz de sacrificar a própria vida.
- Não seja exagerado, gosto de sinceridade.
- Estou sendo mais que sincero.
- Porventura não estás dando evasão à veia poética, não?...
- Já viu poeta insensível à beleza?...
Sorriram os dois e a moça apertou a mão do rapaz entre as suas, e encostou a cabeça no seu peito magro e peludo.
Malô abraçou-a e seguiram em direção à casa de Suzy.
A tarde morria mansamente e o sol arrefecia um pouco sua ira, deixando o poente bordado, como uma tela de Turner. Uma araponga, numa casa qualquer, martelava com estridência; alguns cães passavam a perseguir uma cadela no cio, que caminhava apressada e distribuía ferozes bocanhadas. Mais adiante, uma leva de moleques disputavam uma pelada e diziam palavrões, porém os dois, que se achavam atraídos um pelo outro, caminhavam vagarosamente, bem agarradinhos, a se beijar com sofreguidão e indiferentes a tudo que não lhes dissesse respeito.
O sol nesse momento acabava de desaparecer no horizonte e os dois aproximavam-se do Asilo São Geraldo, onde as árvores do outro lado do muro inundavam de folhas e perfume uma ruazinha sem movimento, quase, na maioria, constituída de altos muros coroados de cascos de vidro. Suzy contempla o lugar, olha no rosto magro do namorado e diz:
- Que lugar bom para se namorar, não achas?...
- Ótimo!... Excelente!... – puxou a moça e encostaram-se no muro.
- Aqui pelo menos ficamos livres dos olhos curiosos – não?...
- Ok – fez o rapaz, beijando-lhe a boca com vigor.
O recanto era realmente agradável, o pipilar dos pássaros que se agasalhavam nas árvores enchia o ar de trinados e chilreios inesquecíveis. O vento mais brando e mais fresco trazia um cheiro bom de fruta madura, flores, hortas molhadas e bife frigindo, vindos da cozinha e dos jardins do asilo.
Continua...
Continuação do capítulo III abaixo
A festa chegava ao fim. Dona Cleyde e Renato aproximam-se dos namorados, pediram licença e avisaram a Suzy que estava na hora de se retirarem. Em seguida, dirigiram-se para o automóvel estacionado do outro lado da rua, deixando que Malô e Suzi seguissem atrás. Suzy, aproveitando, disse quebrando um pequeno silêncio entre os dois:
- Se tiver tempo, vá me buscar na segunda-feira, às l5 horas, no colégio Afonso Taunay, onde leciono, assim poderemos nos rever e termos tempo para conversar – ok?...
- Irei, sim – disse o estudante.
- Te aguardo no saguão do prédio, próximo à porta do lado esquerdo.
- Melhor seria que eu lhe esperasse na porta do Cine Nobel, gosto, sempre que posso, distanciar-me de padres e freiras.
Sorriu a moça:
- Como queiras...
Então na porta do Nobel – ok?...
- Aguardo, heim?... tchau!...
- Tchau!... durma em paz...
Dona Cleyde obtemperou, com voz cansada:
- Saia lá em casa, Malô, assim vocês se verão de novo. A Suzy é nossa vizinha.
- Irei lá qualquer dia desses...
- Olha lá, baiano, promessa é dívida – bradou Renato Amarante, ligando o motor.
- Fiquem tranqüilos, quando menos vocês esperarem, chegaremos lá.
- Vamos, Renato, estou morrendo de sono – disse Dona Cleyde, abrindo a boca.
- Vamos conosco, Malo – disse Renato Amarante.
- Não posso ir agora, sou tesoureiro do Grêmio e preciso acertar contas com a turma logo mais.
- Bem, então deixe-me ir – disse Renato Amarante, despedindo-se.
O carro saíra rodando mansamente pelo asfalto e Dona Cleyde e Suzy acenaram com as mãos para Malô, que ficara na calçada inundada pela luz crua do poste.
A tarde de segunda feira era bela e luminosa. Um sol escaldante parecia cozinhar a terra, porém Malô, que não havia esquecido a moça um só momento, seguiu em direção ao colégio onde, segundo o trato, deveria se encontrar com Suzy. Chegando ao ponto combinado, nada vira além de uma rua deserta e continuamente varrida por um vento morno,que parecia anunciar a brusca mudança do tempo; o estudante consultou o relógio, que já marcava 15h10 e aguardou por mais alguns minutos à sombra do tamarineiro, quando avistou a pequena, que dobrava a esquina, onde funcionava o colégio; envergava um costume rosa, que realçava muito bem seus cabelos cor de pêssego e lhe dava uma aparência das claras mulheres de Renoir. Esta ao chegar muito sorridente, cumprimentou o acadêmico com um sorriso e disse:
- Gosto das pessoas pontuais, embora esteja atrasada por alguns minutos. Faz tempo que você chegou?...
- Dez minutos – disse o jovem, olhando no relógio.
- Me atrasei na Secretaria.
- Não há de ser nada – tranqüilizou-a beijando –lhe a testa.
O rapaz, em seguida, tomou-a pela mão e disse a sorrir:
- Por você sou capaz de sacrificar a própria vida.
- Não seja exagerado, gosto de sinceridade.
- Estou sendo mais que sincero.
- Porventura não estás dando evasão à veia poética, não?...
- Já viu poeta insensível à beleza?...
Sorriram os dois e a moça apertou a mão do rapaz entre as suas, e encostou a cabeça no seu peito magro e peludo.
Malô abraçou-a e seguiram em direção à casa de Suzy.
A tarde morria mansamente e o sol arrefecia um pouco sua ira, deixando o poente bordado, como uma tela de Turner. Uma araponga, numa casa qualquer, martelava com estridência; alguns cães passavam a perseguir uma cadela no cio, que caminhava apressada e distribuía ferozes bocanhadas. Mais adiante, uma leva de moleques disputavam uma pelada e diziam palavrões, porém os dois, que se achavam atraídos um pelo outro, caminhavam vagarosamente, bem agarradinhos, a se beijar com sofreguidão e indiferentes a tudo que não lhes dissesse respeito.
O sol nesse momento acabava de desaparecer no horizonte e os dois aproximavam-se do Asilo São Geraldo, onde as árvores do outro lado do muro inundavam de folhas e perfume uma ruazinha sem movimento, quase, na maioria, constituída de altos muros coroados de cascos de vidro. Suzy contempla o lugar, olha no rosto magro do namorado e diz:
- Que lugar bom para se namorar, não achas?...
- Ótimo!... Excelente!... – puxou a moça e encostaram-se no muro.
- Aqui pelo menos ficamos livres dos olhos curiosos – não?...
- Ok – fez o rapaz, beijando-lhe a boca com vigor.
O recanto era realmente agradável, o pipilar dos pássaros que se agasalhavam nas árvores enchia o ar de trinados e chilreios inesquecíveis. O vento mais brando e mais fresco trazia um cheiro bom de fruta madura, flores, hortas molhadas e bife frigindo, vindos da cozinha e dos jardins do asilo.
Continua...
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