sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Suzy e Malô...


Suzy e Malô numa receita de amor eterno (VII)

Continuação do capítulo VI abaixo

Houve um período de silêncio, que logo fora quebrado por Suzy, que procurou, meio desenxabida:

- E nós, o que vamos fazer, benzinho?...

- Ora, meu amor, sejamos civilizados, juntando-nos aos poucos que lutam para erradicar o preconceito em nosso meio – ok?...

- Não entendi muito bem – disse a moça.

- Ora, minha querida, para se viver feliz, não é necessário que sejamos amarrados um ao outro pelos laços estreitos e convencionais do casamento.Vamos viver juntos, como Simone de Beauvoi e Sartre, “calejar o espírito”, como disse o Galileu.

- Benzinho, falando, tudo parece fácil e bonito, mas não parece seguro. Não se zangue comigo, meu amor, já sei, ainda estou presa aos laços estreitos da velha moral burguesa – não?...

- Minha Suzy, - disse Malô, puxando a moça, que estava em pé ao seu lado e fazendo-a sentar-se em sua perna. O casamento não garante felicidade a ninguém, pelo contrário, desgraça para o resto da vida àqueles pobres cônjuges que receberam as bênçãos do padre e a legitimidade do cartório, e que na verdade, não nasceram um para o outro.

- Pelo menos dá segurança – não? falou a moça.

- Não se iluda com futilidades minha bobinha. Tudo isso não passa de engodo. O Galileu sempre diz do alto dos seus conceitos filosóficos que “o casamento é refúgio”.

- Ora, querido, o Galiléu é filósofo e os filósofos geralmente não se casam – não?...

- Então sejamos também filósofos – disse Malô, com ironia.

A moça ficou calada, como que a meditar no assunto e depois perguntou com ar sério:

- O que vou dizer a meus pais?:...

- Quanto a isso, não se preocupe; deixe por minha conta, que me entendo com os velhos.

- Vou morrer de vergonha – disse a moça.

- Vergonha de quem?...

- Das minhas colegas.

- Não ligue para a torcida, pois hoje em dia, quase todo mundo faz isso.

- Com que cara vou me apresentar a meus pais?...

- Com a mesma de sempre – disse o rapaz, beijando-lhe a testa.

- Gostaria de ter personalidade para tanto – disse a moça.

- Asseguro que muitas das suas colegas vão ficar com inveja de você – disse o rapaz.

- Será?...

- Você verá.

- Anrã!... fez a moça, sorrindo.

- Estou certo de que Dona Cleyde e Renato não te recriminarão por isso.

- Mas nem todomundo tem a compreensão de Dona Cleyde e seu Renato.

Malô estreitando a moça contra o peito disse a sorrir:

- Que achas, minha querida, se alugássemos uma casinha fora daqui e fôssemos viver a nossa vida longe dos olhos cobiçosos dos seus amigos, parentes e colegas?...

A moça levantou-se e foi até a mesa, apanhou o pente na bolsa, penteou os cabelos de pêssegos e voltou-se para Malô dizendo:

- Vou-me embora, amanhã darei a resposta definitiva – ok?...


.....

A moça, ao encontrar-se com o namorado no dia seguinte, tinha os olhos pisados, como se houvesse chorado e uma leve palidez no rosto, que a deixava mais bela e sedutora. Malô, ao vê-la assim, interrogou:

- O que você tem, meu anjo?...inquiriu o escritor.

- Tenho medo de aceitar o seu convite...

- Medo!... – porquê?...

- Ora esta, de juntar-me contigo, a não ser pelo casamento.

- Você ainda está deveras arraigada aos velhos padrões de moral burguesa – não?...

- A mulher brasileira ainda não está preparada para tais lances de liberdade, como a francesa e a sueca – disse a moça – e eu, como não poderia deixar de ser, ainda estou presa a velhos padrões de moral.

- Anrã!... – fez o rapaz, demonstrando-se preocupado.

(Continua no próximo capítulo)

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